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Mulheres de TI: podemos fazer mais e melhor

Mulheres de TI: podemos fazer mais e melhor

Eu sou da velha guarda, ou ‘’raiz’’ como os mais jovens falam. Ainda faço anotações à mão, com uma lapiseira em um caderno. Eu faço isso há anos. Minhas prateleiras têm pilhas de cadernos cheios, etiquetados e com datas. Eu volto a eles, mas é uma maneira terrivelmente ineficiente de catalogar dados. Tentei fazer a transição para o OneNote e similares, mas não tive sucesso até agora. Mas, não é disso que trata este artigo. Aliás, fica a dica para eu mesma: escrever um próximo artigo sobre o porque que não consigo me acostumar com anotações eletrônicas. 

De qualquer forma, citei isso para introduzir o seguinte: no meu caderno, no final da maioria das páginas, há dois números. Eles são assim: 14/4, 50/2, etc. Comecei a fazer isso anos atrás para perceber um problema muito real e ainda persistente no mundo da TI: mulheres ausentes. Esses números, pelo menos nos últimos 10 anos, nunca alcançaram a marca de 50%. Esse número que eu venho anotando ao longo dos anos, são de todas as reuniões que participei, e a proporção entre homens e mulheres na sala. 

Na verdade, minhas observações refletem o que o Centro Nacional de Mulheres e Tecnologia da Informação (NCWIT) relata, que apenas 26% da força de trabalho de computação nos Estados Unidos em 2019 eram mulheres. Apenas 3% eram mulheres afro-americanas. Apenas 7% eram mulheres asiáticas. Apenas 2% eram mulheres hispânicas.

*Nota para o Brasil: 20% dos empregos formais em tecnologia são ocupados por mulheres, segundo o IBGE.

Em 2013, depois de experimentar esse fenômeno em primeira mão, iniciei uma jornada de pesquisa de pós-graduação para tentar entender por que as mulheres estão faltando nas carreiras de tecnologia. Publiquei um artigo em 2015, “Women in IT: The Endangered Gender.” O interessante é que, nos últimos cinco anos, não vimos nenhum movimento em direção a uma maior diversidade.  

O que é ainda mais interessante é que o número de mulheres em TI diminuiu consistentemente ou permaneceu o mesmo desde meados da década de 1990. Hoje, nos Estados Unidos, 57% dos cargos profissionais em todo mercado são ocupados por mulheres, mas apenas 26% dos cargos de informática são ocupados por mulheres. Em 2002, 35% das funções de informática eram ocupadas por mulheres. Em 1996, 41% das funções de computação eram ocupadas por mulheres. Que fenômeno maluco!

*Nota para o Brasil: 44% dos empregos formais do mercado em geral são ocupados por mulheres, segundo o Ministério do Trabalho.

Pode-se pensar que esses números melhorariam nas áreas de gestão de serviços de TI. Afinal, não somos a parte “cuidadora” da TI? Certamente mais mulheres se enquadram neste quesito. Bem, talvez um pouco, mas não realmente. Uma pesquisa feita no ano passado pelo HDI USA, descobriu que três quartos dos entrevistados relataram que suas equipes consistem em 30% de mulheres ou menos. A maioria das equipes de ITSM são dominadas por homens há décadas.

O que é chocante é que essa tendência continua, embora as pesquisas nos digam que equipes diversas superam equipes menos diversificadas em performance. Existem mais razões para a diversidade, além apenas da bandeira. Pesquise. Atreva-se. Você descobrirá que equipes diversas inovam mais, são melhores na solução de problemas, têm melhor desempenho operacional e financeiro, têm custos de projeto mais baixos e, definitivamente, melhoram o moral e o engajamento. São visões de mundo diferentes e a união dessas visões nos tiram da caixa. Ah, e também a união das mulheres, trarão mais igualdade salarial também hehe... (mas isso é tema para outro artigo). 

Então, a grande questão é: POR QUÊ? 

Pesquisas nos últimos 20 anos têm mostrado consistentemente que há dois grandes motivos para esse problema. Essas razões são a entrada e a manutenção da carreira. A entrada significa que simplesmente não há tantas mulheres entrando nessa carreira. Parte disso remonta à primeira infância, quando os meninos são introduzidos à tecnologia de forma mais agressiva do que as meninas. Isso continua na faculdade, quando as meninas são menos propensas a se formarem em tecnologia porque não vêem modelos femininos no campo e percebem a TI como um trabalho masculino.

A manutenção da carreira significa que as mulheres que entram na área simplesmente não permanecem. As razões citadas para isso incluem o ambiente masculino mencionado acima e a falta de modelos de comportamento, mas acrescentam o preconceito de gênero no local de trabalho, questões de equilíbrio entre vida profissional e pessoal, falta de networking e capital social.

Importante: quero deixar claro que minha intenção aqui não é criar uma guerra, ou obrigar mulheres a se revoltarem com  o assunto. Pelo contrário, meu objetivo é dar voz a quem de fato quer e poderia contribuir muito mais para as empresas, para a economia, para os negócios e para a tecnologia, mas muitas vezes não possuem essa voz por conta de um histórico que pode ser facilmente debatido e melhorado. 

Como podemos resolver isso? Há muitas coisas que podemos fazer tanto a nível individual como institucional. Eu sugiro que você comece com as seguintes etapas.

# 1: Reconhecer o problema

Em primeiro lugar, temos que reconhecer que isso tem sido e ainda é um problema. Precisamos nomeá-lo e conversar sobre ele. Faça disso um assunto sobre o qual as pessoas não fiquem cochichando. Pelo contrário, faça disso um assunto sobre o qual as pessoas conversem. Faça reuniões, almoços e encontros mensais para discutir, debater e construir uma comunidade diferente. 

# 2: Compromisso

Tenha comprometimento com a causa, ajude e peça comprometimento de cima para baixo em sua organização. Você não pode ter o que não pede. Vá até seu chefe e pergunte se eles o apoiarão. Peça-lhes que o acompanhem aos executivos de negócio para também conversar sobre o tema. Se você se sentir confortável, marque uma reunião com seu CIO e peça a ele que o apoie. Isso não é tudo. Vá com um plano, com ideias. 

# 3: Obtenha recursos

Reúna recursos e compartilhe informações sobre preconceitos implícitos, inconscientes ou estruturais. Fale com o Departamento de Recursos Humanos. Aposto que eles vão ajudar. Visite Projeto Implícito da faculdade de HARVARD para fazer testes sobre seu próprio preconceito implícito desconhecido, você vai se surpreender. 

# 4: Envolva os homens

Este não é um problema apenas das mulheres. Este é um problema de todos. Envolva os homens. Convide-os a ouvir e discutir o assunto. Faça com que eles recebam treinamento e participem. A maioria dos homens, conservadores ou mais liberais, se surpreendem com seus pensamentos após estudarem mais o assunto, e consequentemente aumentam seu sucesso com mulheres de sucesso ascendendo. 

# 5: Identifique modelos 

Procure mulheres dentro e fora de sua empresa, que são modelos de sucesso e que venceram as barreiras que encontramos ao longo da vida. Pergunte se você pode entrevistá-las para divulgar na empresa ou peça-lhes que participem de reuniões com outras áreas da empresa para falar do tema.

# 6: Mentoria

Quando se sentir preparada e em igualdade, mentore outras mulheres (e homens). Assim vamos sempre evoluindo, tijolo por tijolo. 

# 7: Amplifique a voz das mulheres

Tenho a meta de elogiar / corroborar pelo menos com uma mulher por dia no trabalho. Parece meio bobo, mas é MUITO eficaz. Você pode pensar que eu teria que bajular ou exagerar no relacionamento para que isso aconteça, mas eu não preciso. É fácil encontrar coisas quando você está procurando. A maioria delas espera isso acontecer, mas jamais admitirão. 

Em reuniões ou conversas no café, tente o seguinte (além de pensar, fale):

  • Quero enfatizar o que FULANA disse. Isso realmente demonstrou como CITAR A MELHORIA.
  • Eu realmente aprecio o seu comentário, FULANA. Sua ideia poderia realmente nos ajudar NISSO, NISSO E NISSO.
  • Como FULANA disse, podemos melhorar nesta área em NISSO, NISSO E NISSO.
  • A ideia de FULANA de FAZER TAL COISA poderia ser a solução para ISSO, ISSO E AQUILO.

A escritora Maya Angelou disse uma vez: “Faça o melhor que puder até saber mais. Então, quando você souber mais, faça melhor. ” Nós sabemos mais do que imaginamos. Vamos fazer melhor. Vamos garantir que a próxima década traga mais mulheres para o nosso campo e mantenha as mulheres muito talentosas que já estão lá.

 

* Vicki Rogers tem mais de 20 anos de experiência em TI e atualmente é gerente sênior de mudança na Georgia Tech. Anteriormente, ela foi gerente sênior de TI na Amtrak e gerente de service desk na University of West Georgia. Ela tem experiência em gerenciamento de serviços, gerenciamento de mudanças, desenvolvimento de liderança e diversidade em TI. Ela esteve envolvida na criação, implementação e adoção de service desk das melhores práticas de ITSM, bem como na terceirização de TI. Vicki tem um MBA em Gestão de Negócios, um MBA e um EdS em Aprendizagem, Liderança e Desenvolvimento Organizacional. Sua pesquisa de pós-graduação envolveu o cultivo e o desenvolvimento de mulheres líderes nas divisões de TI do ensino superior. Vicki é palestrante nacional e fala de liderança, gestão de serviços, diversidade e mudança. Fora do trabalho e da escola, Vicki é mãe de duas universitárias brilhantes e bem-sucedidas e de um schnauzer muito mimado. Siga Vicki no Twitter @vickirogers.


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